Juntos somos a consciência que transmuta os tempos.
Qualquer coincidência com o tempo linear é mera semelhança.
Aqui todos os dias é "o dia fora do tempo".
Agora celebramos o solstício e o equinócio sem negócio.
O texto, por ser maioritariamente feito de vazio, pode conter tudo.
O texto metaforAmorfosea-nos a hélix.
Grata!

sábado, 8 de novembro de 2014

INTRANSURGÊNCIA




O NORTE DE ÁFRICA E A EUROPA DO SUOMI NPP
Imagem de Norman Kuring, NASA GSFC, usando data do VIIRS instrument a bordo de Suomi NPP.

Uma vaca não precisa de carne para ter 400 kg.
A vaca, para infortúnio da camada de ozono, emite ventosidades via oral e anal
que, por sua vez, contêm metano
: 21% mais potente do que o dióxido de carbono.

Salvo alguns descendentes dos nómadas caçadores,
o ser humano não necessita de carne na quantidade em que a consome
; e aqueles há que não carecem dela, de todo, para desfrutarem de fausta longevidade.

Convertemo-nos, todavia, nos grandes-comedores-de-carne
: empurramos estrume, sangue e sofrimento pelas artérias do chão adentro,
vezes ao dia,
com um polido par de faca e garfo
que, por ano
– depois do vão sacrifício –
trincha
(mais membro, menos membro)
oitenta criaturas.

As algas, estranhamente, têm estado a salvo das nossas mesas,
como se não houvera mar de nutrimento nas nossas fronteiras Naturais.

Do dia para a noite, deixamos de dormir-nus para dormir-com-três-edredões
; e, ora anoitece demasiado cedo para tanto calor
; ora amanhece cedo demais para tanto frio
; do calote polar da Groenlândia, nem-sei-se-quero-saber

(e o que a gente quer, mesmo, é esquecer 
e viver esta vida que é só uma!
; e que nada tem de interdependente, 
como se as pragas de mosquitos, sem proporções bíblicas e que não fazem notícia, 
fossem assunto nosso e uma questão de clima! Ai...).

O ónus da Mundança não há de, com certeza,
ser das vacas, das galinhas ou dos suínos
; cuja produção forçada provoca mais emissão de gases de efeito estufa
do que toda a viação e indústria juntas

: assim mugem, cacarejam e grunhem,
num qualquer matadouro,
Relatórios-Amarfanhados-por-Lingotes

(Não, a culpa não será da chichinha que tão bem nos sabe 
e nos proporciona tão agradáveis momentos de convívio 
e concursos de francesinhas e feiras do enchido e churrascadas... 
Tradições, atente bem, que antecedem a própria Humanidade!...)

Não imagino, Mãe, porque sonhei que a Terra sacudiria os
grandes-fazedores-e-comedores-de-carne,
como se fossem varejas que utilizam talheres da marca Karma
; no sonho Ela não as liquidava como gladiadores com um gosto invertido,
por mero entretenimento,
mas, antes, sacudia-as com um tsunami de elegância irrepreensível,
por uma questão de higiene doméstica
: omnívoros, varejas, vacas, vegetarianos, vegetais e lençóis freáticos.

Um facto curioso é que o eixo terrestre está a inclinar-se (discretamente!)
apontando para Vega,
com todas as suas implicações eletromagnéticas.

Será, por isso, Mãe, que há cowboys verídicos que se tornaram vegan
: porque veem o agora com olhos de futuro e têm netos como quem tem netos,
por muito bem que a carne lhes assentasse no palato?

Contudo, no seu afã, temo que a pequena Terra,
pelo menos assim vista cá de longe, poderá,
na sua incomensurável fragilidade,
tornar-se, inopinadamente, insensível a estes raros paradoxos prenhes de ternura.


suzamna hezequiel




"The Pale Blue Dot" é uma fotografia do planeta Terra, 
tirada em 1990 pelo Voyager 1 spaceprobe, a uma distância
recorde de cerca de 6 biliões de quilómetros da Terra, como
parte da série de imagens do Retrato de Família do sistema solar. 
Na fotografia, a Terra aparece como a fração de um pixel 
(0.12 pixel) em contraste com a vastidão do espaço. 
O Voyager 1 spacecraft, que tinha completo a primeira fase da
sua viagem e estava a abandonar o Sistema Solar, foi comandado
pela NASA para girar a sua câmara e tirar a fotografia da
Terra através de uma grande extensão de espaço, a pedido de
Carl Sagan.