Juntos somos a consciência que transmuta os tempos.
Qualquer coincidência com o tempo linear é mera semelhança.
Aqui todos os dias é "o dia fora do tempo".
Agora celebramos o solstício e o equinócio sem negócio.
O texto, por ser maioritariamente feito de vazio, pode conter tudo.
O texto metaforAmorfosea-nos a hélix.
Grata!

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

DA ÚLTIMA SESSÃO I


Na sequência da apresentação do 'pudorgrafia' na UNICEPE, o Rui teve a amabilidade de enviar-me, a posteriori, estas suas notas contendo as orientações bibliográficas para a abordagem às imagens do livro. Foi a primeira vez que tal interpelação foi conduzida e muito me sensibilizou. Por vezes, os livros, modestos que sejam, são pontes e ampliam percursos. Aqui a minha declaração de gratidão pelo seu entendimento do conceito e expansão de sentido.

Obras de referência para a intervenção sobre as imagens do livro “Pudorgrafia” de suzamna hezequiel sessão de apresentação

CHE COS'È LA POESIA, Derrida, Jacques

Estamos perante um livro de poesia. À pergunta que se poderá fazer é o que é poesia e se o que está neste livro é verdadeira poesia. Leia-se Derrida. A resposta traduzindo o que é um poema, como partilhando um segredo, entre o privado e o público, é como um ouriço atravessando uma estrada, enrolado em bola, sujeito a deixar-se esmagar.

O QUE NÓS VEMOS, O QUE NOS OLHA, Didi-Huberman

No livro temos imagens, “A imagem que se faz palavra” é uma metáfora. (titulo da exposição na reitoria da UP). A imagem não se faz palavra, substitui em muitos casos a palavra e por vezes com mais eficácia e eficiência. Os Padres da Igreja, entenderam que as imagens poderiam substituir a palavra, (Homo Spectator, Mondzain), mas os iconoclastas séc. VIII a IX e a reforma séc XVI e no fim do séc. XIX e ínício do XX com o simbolismo, o construtivismo, dadaísmo, etc., procuraram destruir as imagens, mas foi sempre reposto o poder da imagem. A imagem e a palavra reforçam-se e completam-se ou contradizem-se e negam-se mutuamente.

A SALVAÇÃO DO BELO, Byung Chul-Han

O que é belo tem que estar num esconderijo, senão torna-se consumível, pornográfico. A beleza transparente é um contrasenso. A beleza totalmente descoberta deixa de ser bela, deixa de despertar interesse. Dizemos apenas “Gostei”, mas já não se pensa mais nisso, porque já foi consumida. O belo tem que estar com algo mais que não é tão belo, para que a beleza se possa impôr soberana.

O ESPECTADOR EMANCIPADO, Jacques Rancière

Apelo para que com as imagens do livro, superem a postura de espectador passivo e assumam posição de espectador emancipado, de modo a que olhando-as se construa algo dentro de cada um de nós, na nossa mente, que nos enriqueça interiormente, como que numa espécie de comunhão divina com Eros.

Rui Coelho dos Santos, 2016, Fevereiro, 10


segunda-feira, 23 de maio de 2016

A FORÇA ESTRANHA DE UMA CORPOESIA



"Vai bicho desafinar/o coro dos contentes/let's play that"                                                                                                                                                                                                 
Torquato Neto



As sinestesias são sempre bem-vindas! Excecionalmente, como é o caso em apreço, são mesmo bem-aventuradas, portadoras de epifanias transmutantes e de sintonias afeitas a concordiar os (pres)sentidos. Ao encetar a escrita deste expedito texto de avaliação a  'pudorgrafia', de suzamna hezequiel, me (ou)vi subitamente interpelado  por uma outra "força estranha", cantada pela voz tamanha de Gal Costa. 

Lendo nas horas precedentes os corpoemas do segundo livro de hezequiel, eu já me havia (pres)sentido sedutoramente submetido pela inapelável força estranha de uma corpoética pletórica, pujante, onde pulsa, indômito, rebelde, le sang d'un poète nas veias, artérias e capilares de uma cariátide botticelliana. Força estranha que incita a corpoetisa a entretecer, com palavras que acordam poliédricas, uma tapeçaria-mosaico no meio do caminho, hoje tortuoso, da poesia literária. Uma força, leia-se inspiração, que é estranha porque se origina nas entranhas do corpoético e se projeta, tal como fósforo-foguetão, palavra (ar)riscada e acesa, em direção ao campanário luminário das estrelas. Uma força que, nunca abdicando de ser estranha, por bom fim, em nosso corpo se entranha.

Confirmando os bons auspícios anunciados em 'paradox.sou' (2010), 'pudorgrafia' (2015) se metaforiza numa caixa de fósforos, que suzamna vai (ar)riscando e acendendo, sem ter medo do estranhamento venturosamente deflagrado por estes incandescentes pontos de lume, de luz de iridescente cor poesia.          

Concebidos, escritos, editados no curso de um íntegro e integral pundonor autoral, estes vigorosos corpoemas, na aparência epidermicamente opacos são, na realidade, profundamente hialinos. Pudorgrafias que expõem estar a corpoetisa disponível para continuar a desafiar e a desafinar, com suas paradoxias ontológicas, "o coro dos contentes". Sim, o coro dos que se entregam, submissos, a exangue ortodoxia, a infértil heterodoxia de que enferma a poesia dominante no planeta.
  

Danyel Guerra 


sexta-feira, 26 de junho de 2015

"COMEÇAMOS A TER MEDO OUTRA VEZ"?




Chega o fim do ano letivo
e reviram-se os dossiers,
 mudam-se de prateleira e de divisão.
No processo, duas folhas soltam-se 
na probabilística da não resignação.
Embora falem do medo, ardem. 

Tudo se passa entre 2007,
(provavelmente antes) e 2015 e além. 
Ardem, sim, todavia, não como fósforos.

Inflamam-nos com duração e efeito indeterminados.








 Entrevista por Sérgio Almeida, in Jornal de Notícias, 1 de Julho de 2007

sábado, 6 de junho de 2015

#1 ÁGUA E LUZ


O riacho veste-a
de branco

: um quartzo em flor
fotonizando
o meio de tudo o que
no Corpo
é Meio


suzamna hezequiel