Juntos somos a consciência que transmuta os tempos.
Qualquer coincidência com o tempo linear é mera semelhança.
Aqui todos os dias é "o dia fora do tempo".
Agora celebramos o solstício e o equinócio sem negócio.
O texto, por ser maioritariamente feito de vazio, pode conter tudo.
O texto metaforAmorfosea-nos a hélix.
Grata!

sexta-feira, 1 de maio de 2015

BRILHOS de Marília Miranda Lopes


Brilhos, brocados, copos de cristal
pirilampos nos cabelos

Desenterrais-me o olhar
das vossas cabeleiras com pérolas

Junto à porta ainda sinto o sufoco
a carruagem desenfreada, rua fora
o baile dos vaga-lumes
nas cabeças

A noite avança

Cofiam-se bigodes fartos, já sem políticas cartolas
Trincha-se
leitão luzidio, morto na travessa

Há toda uma armação
uma dobradiça que vos acompanha
para que vos senteis, elegantes, à mesa

O animal fumega

A violeta de Parma exala dos colos
!Ó femmes fatales!

(Comentais, entre risos, que George Sand prefere
ouvir Chopin com patchouli)

Não ouvis, lá fora, os acordes do povo sufocado
As execuções carecem de baunilha ou âmbar
Cheiram a carne assada. devoram
a liberdade absoluta.


Marília Miranda Lopes (in “Victorianas”, Labirinto de Letras, 2015)