Na sequência da apresentação do 'pudorgrafia' na UNICEPE, o Rui teve a amabilidade de enviar-me, a posteriori, estas suas notas contendo as orientações bibliográficas para a abordagem às imagens do livro. Foi a primeira vez que tal interpelação foi conduzida e muito me sensibilizou. Por vezes, os livros, modestos que sejam, são pontes e ampliam percursos. Aqui a minha declaração de gratidão pelo seu entendimento do conceito e expansão de sentido.
Obras de referência para a intervenção sobre as imagens do livro
“Pudorgrafia” de suzamna hezequiel sessão de apresentação
CHE COS'È LA POESIA, Derrida, Jacques
Estamos
perante um livro de poesia. À pergunta que se poderá fazer é o que é poesia e
se o que está neste livro é verdadeira poesia. Leia-se Derrida. A resposta traduzindo o que é
um poema, como partilhando um segredo, entre o privado e o público, é como um
ouriço atravessando uma estrada, enrolado em bola, sujeito a deixar-se esmagar.
O QUE NÓS VEMOS, O QUE NOS OLHA, Didi-Huberman
No
livro temos imagens, “A imagem que se faz palavra” é uma metáfora.
(titulo da exposição na reitoria da UP). A imagem não se faz palavra,
substitui em muitos casos a palavra e por vezes com mais eficácia e eficiência.
Os Padres da Igreja, entenderam que as imagens poderiam substituir a palavra, (Homo
Spectator, Mondzain), mas os iconoclastas séc. VIII a IX e a reforma
séc XVI e no fim do séc. XIX e ínício do XX com o simbolismo, o construtivismo,
dadaísmo, etc., procuraram destruir as imagens, mas foi sempre reposto o poder
da imagem. A imagem e a palavra reforçam-se e completam-se ou contradizem-se e
negam-se mutuamente.
A SALVAÇÃO DO BELO, Byung Chul-Han
O que é
belo tem que estar num esconderijo, senão torna-se consumível, pornográfico. A
beleza transparente é um contrasenso. A beleza totalmente descoberta deixa de ser bela,
deixa de despertar interesse. Dizemos apenas “Gostei”, mas já não se pensa mais
nisso, porque já foi consumida. O belo tem que estar com algo mais que não é
tão belo, para que a beleza se possa impôr soberana.
O ESPECTADOR EMANCIPADO, Jacques Rancière
Apelo
para que com as imagens do livro, superem a postura de espectador passivo e
assumam posição de espectador emancipado, de modo a que olhando-as se construa algo dentro
de cada um de nós, na nossa mente, que nos enriqueça interiormente, como que
numa espécie de comunhão divina com Eros.
Rui Coelho dos Santos, 2016, Fevereiro, 10